quinta-feira, 29 de julho de 2010

Teenage Fanclub - Shadows [2010 - MERGE]

Teenage Fanclub - Shadows [2010 - MERGE]




Quando ouvi Teenage Fanclub pela primeira vez, em meio a uma playlist repleta de rock pesado e progressivo, sofri uma espécie de crise existencial. Enquanto ressoavam pelo headphone as incríveis canções sinistramente pops do cultuado disco Grand Prix, tive a sensação de uma flecha ter atravessado minha cabeça. Aquilo não fazia parte do que eu convencionara ser “bom”, mas, obviamente, se tratava uma peça de arte absolutamente superior a tudo que eu havia escutado anteriormente; uma obra cuja audição conduz a um estado de espírito único, à rendição da alma. Posteriormente, viria a constatar que Neil Jung é a melhor música já composta em toda a história da era moderna.

À medida que ouvia compulsivamente os demais discos do grupo, e, até mesmo, os bootlegs, singles e bonus tracks, percebi que havia uma consistência fantástica nos discos lançados, sempre com melodias arrasadoras e excelentes arranjos, o que era encontrado, até mesmo, no material extra.

Passado o intróito, furto-me em comentar acerca da história discográfica da banda, até porque se fosse falar a respeito terminaria por construir uma verdadeira obra monográfica. O que importa, quando falamos dos fannies, é acentuar a presença de três talentosíssimos compositores, responsáveis pela magnificência do grupo. Normam Blake (Neil Jung, The Concept, Mellow Doubt etc) é o dono das canções mais diretas e arrebatadoras. Gerard Love (Going Places, Spark’s Dream, Radio etc), fazendo jus ao seu cargo de baixista, compõe as melodias mais complexas e intrincadas, que levam o ouvinte a um mundo de distorções, harmonias vocais suntosas, e arranjos meticulosos. Raymond Macglinley (Your Love Is The Plance Where I Come From, I Don’t Know, About You etc) é responsável pelas canções mais puristas, simples, mas não menos inspiradas. O três dividem as músicas dos discos de forma democrática, quatro para cada, sendo que cada autor assume os vocais em suas respectivas canções.















* A trupe reunida

Assim que terminei de baixar o disco, e colocá-lo em minha playlist, pensei: putz, esse é o Teenage Fanclub, a melhor banda do mundo, e já faz cinco anos desde o lançamento do último disco. Um pouco receoso, cliquei em Sometimes I Don't Need To Believe In Anything, e, já durante os primeiros acordes, percebi, sorrindo, o meu receio se dissipar.

E não seria impróprio dizer que Shadows é um dos trabalhos mais concisos do grupo. Diferentemente do disco anterior, Man-made, cuja alma lo-fi e minimalista trazia a sensação do fim iminente, tranparecendo dor e indiferença perante a vida, Shadows surge cheio de boas perspectivas e de esperanças. A primeira canção, já citada anteriormente, de autoria de Love, é um retalho do que se convencionou chamar de british invasion (ou invasão inglesa) durante os anos 60, explodindo num refrão majestoso repleto de metais e regozijantes backing vocals. Sem dúvida, uma das melhores músicas deles até hoje. Love é o responsável pelos arranjos intrincados que levam Shadows a uma outra dimensão: a busca pela perfeição. Suas canções primam pela precisão cirúrgica de cada linha de baixo, de guitarra e de bateria, fazendo incluir várias camadas de instrumentos. Into The City é psicodélica até os ossos, desembocando numa bridge bem ao estilo Beach Boys, fantástica.

Norman Blake, bem ao seu estilo, traz pérolas como Baby Lee, balada pop de primeira linha, que se amarra aos neurônios de modo que você se surpreende assoviando-a no meio da rua. Dark Clouds traz versos otimistias: 'Dark clouds are following you, but they'll drift away / i watched the night turning into a day', bem ao contrário do disco anterior. Mas é com Back of My Mind que Blake traz de volta o espírito épico de suas antigas canções: melodia simples, arrasadora, um refrão memorável, tudo entremeado às séries de guitarradas que conduzem a bela letra a uma catarse powerpopper. Sempre que escuto essa música agradeço aos céus por ter nascido humano e com um par de ouvidos eficientes. É incrível como, com o passar do tempo e de tantos discos, ainda consiga manter uma produção artística invejável. Essa cara, quando tinha nove anos, em um beco sujo de Glaslow, encontrou um livro deteriorado e perdido numa lata de lixo, datado de 1057 a.c, intitulado '1001 melodias incríveis'. SÉRIO.

Macglingley, por sua vez, traz belas canções como The Past e a folk-rock-progressiva-grand-finale Today Never Ends. Também tenho que tirar o chapéu para esse cara, afinal, ele mal compunha nos primeiros discos. A partir de Grand Prix, passou a construir um repertório sólido, contribuindo de forma determinante à delineação do estilo da banda a partir de então. Em Howdy!, na minha opnião, ele superou os outros dois integrantes, que sempre foram tidos como "superiores". Também é o dono da voz mais bacana.


















* Old times


Entretanto, como diria o poeta, nem tudo são flores. Macglingley, infezlimente, é o responsável pela parte sofrível da obra. The Fall, lembrando um pouco de Smiths (SIM, SMITHS) com mais de cinco minutos de melodia sem graça, chega a ser irritante. Live with the Seasons começa bem, mas peca pelo arranjo repetitivo. Tais escapadas tendem a desestruturar um pouco a base do disco, que se torna cansativo em alguns momentos. Apesar disso, é incrível notar como as composições dos três se completam, o que ainda continua sendo uma das coisas mais curiosas acerca do grupo.

Sem dúvida, um dos grandes lançamentos do ano. Contudo, apesar do disco ter sido ovacionado pela crítica especializada, obtendo um invejável METASCORE 81 (www.metacritic.com), os gigantes da mídia musical (LEIA-SE MTV) não concedem o devido valor, até porque já circunda ao redor da banda um clima cult inexplicável (apesar do som ser extremamente acessível). Baby Lee bem que poderia ser o hit dessa temporada, mas não será, por vários motivos, que inclui falta de patrocínio, de jabá, e, principalmente, pelo fato de que, hoje, sinômino de sucesso é parecer com a Lady Gaga.

Concluindo, “Shadows”, para mim, é uma obra bela e purista em meio ao caos que se tornou a música pop. É um alento aos ouvidos. Não chega a ser ESSENCIAL, como, por exemplo, “Grand Prix”, mas acrescenta uma página importante na história de uma das melhores bandas da atualidade; na minha humilde opnião, a melhor do mundo. Nota: 8,5.

Músicas:
http://www.youtube.com/watch?v=A4H8F3TxSzQ
http://www.youtube.com/watch?v=wmmckwDSPOI

http://www.youtube.com/watch?v=d_k4Hfm15go

Proposta

          A proposta inicial do blog é apresentar uma visão crítica acerca de obras musicais modernas (discos, shows, dvds de música etc.), nacionais e internacionais, espécie do genêro que se convencionou denominar Cultura Pop. Não tenho a pretensão de encerrar o assunto, mas, meramente, submeter a minha opnião à análise de quem se interessar. Também não tenho métodos específicos para analisar determinado disco, o que siginifica dizer que o meu conceito de "bom" ou "ruim" decorre unicamente de minha percepção crítica e (im)parcial acerca da obra analisada. Não tenho conhecimentos avançados de música, por isso, não vou dissertar, nem usar como parâmetros, "escalas musicas usadas na progressão melódica da canção", ou "partituras", ou "linhas melódias" etc., seja lá o que isso queira dizer, até porque, na atual conjuntura da música moderna, isso já não importa.
           Posso afirmar, também, que não sou fã exclusivo de determinada tendência musical, mas, claro, tenho minhas bandas favoritas. Esperem, assim, análises de todo o tipo de estilos. Não me interessam os movimentos sociais que estão relacionados, portanto, ignoro a questão da banda ser Indie, Rocker, Boyband, Powerpopper, Headbanguer etc.
            Por fim, gostaria de dizer que não sou jornalista, mas gosto de escrever tanto quanto como se fosse. Portanto, já peço desculpas, desde logo, por eventuais imprecisões em termos ou conceitos estruturais.
            É isso.