terça-feira, 17 de abril de 2012

Nada Surf - Stars are Indifferent to Astronomy [2012 - Barsuk]

 Após um belo disco de covers e um certo tempo de hiato, a banda de maior expressão do Powerpop na atualidade lança um disco recheado de canções inéditas, causando frisson nos indies de plantão. E, quando se trata de uma banda que raramente comete erros, a exaltação é ainda mais compreensível. Mas, afinal, o que se esperar de um disco de powerpop? Será que ainda há salvação para um gênero que, aparentemente, parou no tempo? O Nada Surf, em Stars are Indifferent to Astronomy responde essas perguntas.
Desde o começo, a banda vem se desatrelando do sucesso estrondoso do single “Popular”, em meados dos anos 90, e produzindo bons discos e uma série canções fantásticas. O peso lírico e musical do ótimo segundo álbum (The Proximitty Effect, de 1998), deu lugar à produção limpa e à leveza do igualmente fantástico Let Go, de 2003, até hoje o melhor disco do grupo. Após a simplicidade quase indecente de The Weight is a Gift, de 2005. a banda vem refinando seu powerpop vigoroso, numa complexidade crescente que deu seus ares em Lucky de 2008, e, agora, vem mais forte do que nunca.
O disco começa com a música Clear Eye Clouded Mind. Uma introdução vigorosa, com guitarras cortantes e versos obscuros sobre alguém que sobe as montanhas, observa as estrelas e repensa sua vida. When I Was Young, o primeiro single do disco, resplandece, numa melodia graciosa, os prazeres e o mundo sonhador da infância – e também a amargura da fase adulta.
No geral, o álbum congrega temas saudosistas, às vezes bucólicos, às vezes citadinos. No entanto, o mais interessante é que a banda parece milimetrar a montagem dos arranjos exatamente para dar mais ênfase às belas letras que encontramos no disco. È o que encontramos, em maior ou menor grau, por exemplo, em No Snow On The Mountain e Teenage Dreams, em que as intricadas melodias encontram campo fértil nas abstrações das letras e na precisão dos arranjos.
Assim, a banda parece querer adentrar num solo em que o Teenage Fanclub vem obtendo êxito desde o inigualável Howdy!: a construção de melodias e arranjos numa fusão entre o folk, country, rock o pop, mais ou menos na linha que os Byrds tentavam seguir há 40 anos atrás. A diferença dos rapazes é que eles ainda conseguem incluir algumas referências da surf music, que por vezes se enaltece. E o resultado é algo atemporal, que não fica datado, nem perde o brilho. As músicas, se sob a primeira escutada parecem simples e sem inspiração, transformam-se, após, naquelas canções que acalmam a alma, fazendo transparecer melodias incríveis e extremamente detalhadas.
Mas todas as músicas do disco, por mais belas que sejam, são totalmente eclipsadas pela beleza grandiosa de Jules e Jim (referência a um filme francês homônimo de 1962), uma pérola que a banda entrega um pouco antes da metade do disco. Tudo que o trio faz nessa faixa se harmoniza perfeitamente e traduz a essência do som da banda: melodia pop complexa com influências dos Byrds e Big Star, guitarras abertas e levemente distorcidas, baixo profundo – tudo numa espiral que conduz ao épico, ao soberbo. 
  





* Crise de meia idade?
Entretanto, é importante dizer que quem procura novidade vai se arrepender com Stars... É incontestável que o Nada Surf em nada altera o panorama da música atual, ou seja, a banda entrega, no disco, mais do mesmo. E tal circunstância foi exatamente o principal alvo de críticas por parte da imprensa musical, que, até de forma impiedosa, criticou o grupo por não ser o que se convencionou chamar de “autênticos”. Acerca dessa tendência, já pude tecer algumas considerações sobre a temerária “síndrome do underground” que afeta o jornalismo musical na atualidade, mas não vou me alongar a respeito, bastando um google it para quem tiver interessado. Resumindo, na minha opinião, não há problema no mais do mesmo, desde que seja belo e criativo.
Na verdade, a única música francamente ruim é The Future, a canção que fecha o álbum. Nem mesmo o arranjo alegre consegue mascarar a melodia frágil e sem inspiração. Não é exatamente um final apropriado para um disco que, no geral, é um deleite aos ouvidos. De qualquer forma, a estrutura e o vigor do disco não são comprometidos, e a música acaba passando despercebida.
No fim das contas, Stars are Indifferent to Astronomy é um grande disco, um verdadeiro prêmio depois de quase quatro anos sem músicas inéditas. Nada aqui é feito com amarras ou limitações. As melodias fluem quase que naturalmente, e a complexidade dos detalhes transforma tudo numa simplicidade elegante, numa sensibilidade que poucas bandas conseguem atingir. Dizer que o Nada Surf fez seu melhor disco desde Let Go, em 2003, pode parecer forçado, mas é a pura verdade. Dizer que o powerpop do grupo busca a perfeição pode ser exagero, mas essa realidade é clara. E dizer, por fim, que o grupo vem repetindo a fórmula já apresentada nos discos anteriores também é verdadeiro. No final, é tudo mais do mesmo, exatamente da forma como deve ser.  Nota: 9,0.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Lana Del Rey – Born to Die [POLYDOR]

*Ainda prefiro video games.
 












Lana Del Rey é Elizabeth Grant. Há pouco menos de 6 meses a moça surgiu causando um frisson na indústria fonográfica e nas redes sociais com a sua música “Video Games” – que ganhou um clipe forçosamente “caseiro” - e que chamou a atenção do público por uma mistura improvável de influências musicais, tudo turbinado por um extraordinário alcance vocal. Pois bem, no dia 31 de janeiro de 2012 foi lançado “Born to Die”, primeiro disco de Lizzy Grant sob a alcunha de Lana Del Rey.
 
Ao longo do álbum, depara-se com momentos de intensa qualidade artística e outros, ao contrário, de decepcionantes bobagens. Na verdade, as cinco primeiras músicas são impactantes, grandiosas, compendiando influências do rock clássico, folk, soul, pop, R&B, hip hop e até música clássica. “Born to Die”, primeiro single, abre o disco com um clima quase fantasmagórico, ressaltando um baixo sintetizado, teclados que parecem ressoar numa igreja medieval e uma batida eletrônica recheada de ecos de reverb.
 
“Off the Races” se contorce entre o hip hop, jazz e R&B, e o refrão surge como uma explosão pop. Ponto positivo, também, para a produção intricada, e, principalmente, para a atuação vocal de Lana, que consegue alterar o timbre de voz com uma facilidade impressionante (o que, inclusive, se repete em vários outras canções do disco). O efeito gerado por tais nuanças vocais é que por vezes Lana parece cantar como uma bêbada, ou, por vezes, como uma psicopata convicta, o que engrandece a interpretação das músicas. “Blue Jeans” é a música que Elvis se esqueceu de gravar, e “Video Games” é um hino moderno ao comodismo e à rejeição. 
 













 * Só mesmo uma beldade para reativar minhas inspirações resenhísticas.

 Entretanto, a partir de “National Anthem” e “Dark Paradise”, duas músicas bem fraquinhas e inexpressivas, o disco começa a perder a força. Daí se percebe que músicas excelentes vêm permeadas por outras mambembes. Tanto é que “Radio” - a melhor canção da leva, um entremeado delicioso de pop e rock sessentista, com um vocal esplendoroso e, ao mesmo tempo, esnobe (o que me remeteu a Debbie Harry – Ah... Debbie Harry...) – vem acompanhada de “Carmen”, uma música bizarra num estilo ridiculamente britânico. “Million Dollar Man”, por sua vez, traz uma excelente melodia jazzística, cantada com uma incrível devoção por Lana. Finalmente, após a Summertime Sadness (sobre a qual me recuso a tecer comentários), o disco se encerra com a quase-electropop “This is What I Make Us Girls”, que, se não é das mais inspiradas, também não faz feio.
 
Outro ponto negativo é o conteúdo extremamente melodramático das letras; as vezes é difícil ouvir, repetidas vezes, um tipo excessivo de sofrimento oriundo por rompimentos traumáticos e pela demência do mundo em geral. Contudo, se você, como eu, é daqueles que entende muito pouco do inglês cantado, isso não será dos maiores problemas.

No fim das contas, “Born to Die” fica no plano do razoável. Não constitui um disco à altura da expectativa gerada, mas, se comparado ao atual panorama da música pop, representa um suspiro de novidade, congregando boas influências e algumas excelentes canções. A falta de regularidade a partir de determinado ponto macula a pretensa qualidade do disco, o que reputo ter sido o motivo de algumas opiniões negativas. De todo modo, é uma obra que merece ser ouvida, comentada e tocada, até porque, além de ter uma bela voz e um grande talento para compor, a Lana é uma gata. Acho que tá de bom tamanho, afinal. Nota: 6,5.