quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Katy Perry - Teenage Dream [CAPITOL]

A intransigência da espontaneidade.
 












A música pop é uma vadia. Rodada. Usada. Sequer possui uma conceituação precisa e até mesmo sua origem é obscura. Seus adeptos (artistas e produtores) mesclam estilos musicais com a mesma virtude que possui um apostador assíduo da loteria: SEM RUMO. Durante muito tempo tive um preconceito quase que mortal por tal estilo musical (se é que podemos falar assim), talvez por perceber a banalização que se generalizou entre o meio. Aos poucos, com calma, pinçando aqui e ali, até encontrava material de qualidade, que, na verdade, eram como flores perdidas num deserto de pastelões.

Entra ano, sai ano, e somos bombardeados por bandas e artistas fabricados e impostos pela mídia. Eles são bonitinhos; tocam nas rádios milhares de vezes por dia; são os primeiros das paradas; seus clipes invadem a televisão e a internet; os discos vendem milhões. O estilo passou a ser denominado Pop Music, constituindo uma espécie de junção torta de diversos estilos musicais,  como o R&B, Disco Music, Música Eletrônica, New Wave, Pós-punk, Rock e milhares de outras vertentes que vêm agregadas.  Tem como seus maiores expoentes Madonna e o finado Michael Jackson ("O Rei do Pop" - AHA!), que deus o tenha.

Seu modelo, como hoje conhecemos, remonta ao surgimento da MTV (1980), resgatando as atividades predatórias da indústria fonográfica americana e inglesa na era pré-Beatles, época do surgimento das grandes gravadoras, na qual os artistas eram escolhidos a dedo e as músicas eram encomendadas.

Katy Perry, a nova queridinha do pop [ARGH!], é linda, dona de uma voz  vulgar, no bom sentido, e de um estilo, ahn, digamos,  "provocante" (EUFEMISMO mode: ON). Estourou nas paradas em 2008, com seu razoável primeiro disco One of The Boys, que mais parecia uma colêtanea, haja vista a quantidade de singles bem sucedidos. O álbum teve uma mão forte da produção, criando verdadeiras proezas, como o clima lésbico-irônico de I Kissed a Girl, que era bem massa, na real. Hot'n'Cold, por sua vez, tem um dos melhores refrões que eu já ouvi na minha vida. Entretanto, a obra, bem na linha do rock de arena, se tornava muitas vezes cansativa e repleta de clichês. Tenho que conceder certo mérito a Katy Perry, pois, na contramão do que a maioria das artistas de sua estirpe faz, ela assina a co-autoria de diversas faixas de seus discos, o que lhe faz ter alguma credibilidade nas ruas.
















Katy... ahn, deixa pra lá, essa foto vai ficar sem legenda.

Teenage Dream, o segundo álbum, lançado mês passado, traz, logo de cara, uma pesada influência electropop, o que é uma lástima. O que se percebe ao longo da audição é a perniciosa falta de espontaneidade à qual os artistas pop são prisioneiros. As canções descrevem aquele ciclo datado de verso-refrão-verso-refrão-ponte-refrão, e cada batida, backing vocal, e até mesmo as vocalizações da garota parecem ser militricamente pensadas e incluídas como dogmas impostos. Contudo, não é este o fato que torna, unicamente, o disco ruim, mas também a qualidade das composições, conforme será explicado abaixo.

Ao longo do disco, o que se vê são canções medíocres, sem força, sem personalidade, isto é, bem ao contrário do primeiro disco da garota, que ao menos transparecia uma certa vitalidade juvenil. O que parece, na verdade, é que ela tenta se desvencilhar do esteriótipo "menina má", que em termos deu certo no primeiro disco, e tornar-se uma "diva do pop", mais ou menos na estratégia que a própria Madonna teve êxito em realizar. Entretanto, quando tudo se torna sério de mais, o mundo começa a te exigir qualidade, e se o trabalho é fraco, o que antes era uma festa na piscina, se torna uma festa de bodas de ouro com aqueles tiozões balofos e hipertensos tomando seus whiskeys e reclamando sobre as dores nos joelhos.

Teenage Dream, música que abre o disco, possui uma letra quase débilmental, e uma melodia frágil de mais, simplória; poderia ter sido composta por uma adolescente na fase pré-puberdade. Ela é tão ruim, tão péssima, que eu não me surpreenderia em vê-la estourando nos primeiros lugares das paradas. Peacock entrou na lista das piores musicas que eu já ouvi na minha vida, SÉRIO. Sem falar que, a partir da faixa nº 9 (Who Am I Living For?), o álbum se torna maçante e inteiramente insuportável.






















Bonitinha, mas a música é ordinária. 

Entretanto, não posso afirmar que tudo é descartável. Carlifornia Gurls, com um refrão marcante e guitarras groovadas, além da participação pastelona de Snoop Dog, é interessante e divertida, e mostra que Katy Perry ainda guarda um pouco daquele estilo "revoltadinho" do primeiro disco. Last Friday Night parece o Weezer dos tempos atuais, trazendo uma levada rockeira bem massa e repleta de distorções, mas, ao mesmo tempo, extremamente acessível e pop, sem pretensões. Era exatamente isso que eu pretendia ouvir no segundo trabalho da garota, tudo aquilo que era bom no primeiro disco e que poderia ser aproveitado com composições menos burocráticas e mais diretas. Circle The Drain tem um trabalho de produção intrincado, que a deixa razoável. MAS É SÓ.

Katy Perry se tornou fantoche de sua gravadora, a gigante CAPITOL, que sempre veio muito preocupada em vomitar sucessos em detrimento do estilo particular de seus músicos. A falta de espontaneidade, imposta pelas gravadoras, apesar de muitas vezes coibir certas guinadas indesejáveis por parte dos artistas, acaba tornando-os indefesos e frustrados. Nem sempre o que é sério é bom, e o que é divertido é ruim. Bandas como Weezer e Tenacious D são provas vivas disso. Diversão era exatamente o que eu esperava desse disco, mas, ao contrário, quase só encontrei um esforço inútil (sério e conservador) de soar como a Madonna. Se isso foi escolha da própria Katy ou de uma gravadora sem escrúpulos, isso eu não sei. Mas tá aí, deu merda. Nota: 3,5  





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